Sem qualquer pretensão, aqui estão meus comentários sobre as situações crônicas que vivemos em nosso país e no mundo. São opiniões muito minhas, pensadas há tempos, baseadas na minha formação em Ciências Sociais e longa experiência de vida. E como estou em processo de franca recuperação do Covid-19, meu desabafo, talvez, seja excessivamente longo. Quase como uma saudosa conversa de botequim onde debatíamos as adversidades da vida e dividíamos algumas alegrias, coloco essas opiniões à mercê do bom debate e críticas para aprender mais e compreender melhor.

Inicio com os problemas e questões que afligem o mundo. A horrível pandemia do Covid 19 e as consequências em todas as atividades humanas. Aflorou-se vicissitudes dormentes que agora exigem soluções: a constatação óbvia da imensa desigualdade social onde países ricos fazem de tudo para manter a situação, mas, usando a Ciência para a rápida resposta à doença através de vacinas eficazes. Vivemos a lenta recuperação desse mal com significativa disponibilidade de vacinas nos países mais ricos e vacinação expressiva na América Latina. Em África e parte da Ásia – em especial a Índia – há um processo bem mais lento de recuperação.

Muitos julgam que a cepa Ômicron seja o início do término da pandemia. Como ouvinte atento dos especialistas, entendo que iremos conviver com o vírus por muito tempo ainda. Hábitos sadios como vacinação, distanciamento necessário, uso de máscara e higiene devem ser mantidos.

Na política mundial assistimos a tendência para a direita em países mais ricos. Não necessariamente a extrema direita como o fascismo, porém, um desejo de um Estado mais forte onde tendências populistas prometem devolver o poder ao povo levando a extremos como a tentativa de invasão ao Capitólio no final do governo Trump. Algo realmente assustador assistir o “povo contra a Democracia”.

Na verdade, o populismo é a tendência. A própria esquerda deixa de ser socialista e torna-se oportunista longe do ideal sério da consciência social. Agora temos a China com sua ditadura autoritária e na América Latina, temos ainda Cuba e Venezuela. Acompanho com interesse o que fará Gabriel Boric, o novo presidente chileno de apenas 35 anos, socialista, líder estudantil que fez campanha com discurso na esperança e promessa de fortalecer um estado de bem-estar social no país.

A reação a essa tendência foi a última eleição americana; a sucessão da Grande Dama – Ângela Merkel – na Alemanha; a possível reeleição de Macron, na França; a situação de Boris Johnson no Reino Unido; na Itália, o presidente Sergio Mattarella foi reeleito fazendo frente a uma tentativa de retorno de Silvio Berlusconi; e o Partido Socialista, liderado pelo primeiro-ministro António Costa, venceu as eleições, atingindo a maioria absoluta.

Será que o povo começa a se cansar do toma-lá-dá-cá que se tornou moeda de troca política? Desconfiar da tendência política que exclui a população das tomadas de decisões fundamentais que podem influir positivamente em sua vida? Será que o capitalismo e o liberalismo corram o risco de terem de se readaptar a ausência da democracia? Será essa a influência sobre a economia do mundo? Será que prevalecerá o sistema de direitos assistencialistas, protecionistas e estatistas sem democracia próprio de países em eterno desenvolvimento como o Brasil? Com as atividades industriais recebendo subsídios e protecionismos pouco republicanos? Ressurgirá um forte nacionalismo inconsequente que fará frente à globalização? Os países líderes deixarão o posto, especialmente os EUA, e se isolarão com a tendência trumpista da “America first”?

Como desenvolverá a luta surda e feroz para manutenção da liderança mundial entre EUA, China e Rússia? Rússia enfraquecida desde o esfacelamento da União Soviética e, por isso mesmo, extremamente agressiva em seus posicionamentos políticos e militares como assistimos na questão Ucrânia. Sem falar no impacto econômico de um possível conflito. Não consigo aceitar tamanha insensatez de todos os lados. Qualquer conflito causará efeitos devastadores.

São essas as questões que ora prevalecem consequentes da pandemia iniciada no final de 2019. A mais séria é o impacto na economia mundial com efeito pernicioso na sobrevivência e sustentabilidade de todos. A situação se manterá em 2022 embora numa tentativa drástica de recuperação. A meu ver, o negacionismo dos governos foi pusilânime: a escolha pela ignorância e indiferença liderada pelos EUA e UE com alternâncias entre lockdowns e aberturas prejudicaram sensivelmente a luta contra a pandemia e sem salvar a economia. Possivelmente, o mesmo ocorrerá em 2022.

A arrogância em relação à Ciência, às recomendações da OMS e às pessoas sensatas levaram à expansão da doença em cada país do mundo no primeiro ano da pandemia. A meu ver, essas questões permanecerão em discussão, politicamente sem solução, durante este ano. Obviamente, discussão necessária para evitarmos ‘a marcha da insensatez” como ensinada pela historiadora Barbara W. Tuchman onde governos insistem em adotarem políticas contrárias aos próprios interesses.

A força de trabalho reduziu substancialmente e permanecerá assim durante este ano, embora venha ocorrendo um crescimento sensível de disponibilidade de emprego. São Impactos no trabalho causados pela doença tanto por hospitalização como por morte pelo vírus. Transformações importantes como a adaptação ao home office por empresas e empregados deverão estar em franca discussão durante 2022, como as questões sobre produtividade, humanização dos empregos – o Social da ESG – à sustentabilidade das empresas.

Durante o ano, acompanharemos com interesse as consequências aos programas de assistencialismos às classes menos favorecidas. Refiro-me ao desejo de permanecer desempregado ou de solicitar maiores salários ante a demanda por empregos por parte das empresas. Outro aspecto interessante é o desenvolvimento do empreendedorismo por parte da força de trabalho apoiada pelo “capital aventureiro” agressivo, abundante e perigoso, principalmente, no campo tecnológico. Essa acomodação prevalecerá, porém, de forma diferente entre países ricos, onde a qualificação da mão de obra é bem maior que em países em desenvolvimento como aqui onde prevalecerá a demanda por emprego presencial.

Nos anos da pandemia houve uma repressão de investimentos em infraestrutura e empreendimentos no mundo todo. A depender da evolução da pandemia – alguns alegando melhora, outros alegando perigos futuros com a chegada de novas cepas – haverá uma recuperação econômica por conta desse capital reprimido. Outro aspecto que continuará a impactar é a imensa confusão causada na queda de produtividade de insumos e produtos e consequente turbulência na distribuição e nas linhas de suprimentos em todas as fases do processo econômico. Talvez, o maior problema que afligirá a economia mundial em 2022. O retorno à normalidade dos chamados “supply clains” será certamente crucial. Vemos, sem exceção, a volta da inflação em todos os países e o aumento das taxas de juros, gerando problemas no fluxo de investimentos que passam a dar preferência a certeza de segurança e resultados. Haverá grandes problemas fiscais e o sobe e desce de moedas fortalecerá o dólar americano e o iuane.

Outra consideração é o franco desenvolvimento do setor de tecnologia. Para leigos, como eu, que aceitam e admiram a força da tecnologia, reconheço que a rapidez do seu desenvolvimento e a incapacidade de assimilação igualmente ágil assustam. Algo extraordinário o investimento maciço na Ciência feito pelos países ricos, principalmente EUA e China, com evolução fora do comum em todas as atividades científicas, em especial biologia, medicina, física quântica, inteligência artificial e robótica, com resultados fantásticos já surgindo ou determinando um futuro melhor para a humanidade. No entanto, inúmeras vezes, fico decepcionado vendo grandes investimentos sendo feitos em aventuras espaciais mais hedonistas do que práticas, algo egoísta e narcisista considerando a imensa desigualdade de distribuição de renda e de vacinas anti-covid.

Turbulências que afetam tanto política como economicamente são as mudanças climáticas e o meio-ambiente. Em 2021, assistimos uma impressionante variação do clima. As ocorrências catastróficas foram constantes, atípicas e independentes das ações previsíveis por conta dos Niño e Niña: enchentes na Europa, tempestades de neve, tornados no centro americano, chuvas na Bahia e Minas Gerais, secas nos EUA e sul do Brasil, temperaturas altíssimas no verão canadense e americano, inundações. Sem falar nos ciclones, terremotos, maremotos e ciclos vulcânicos monitorados no mundo todo. São normais? São esperados? São eventos que afligem sobremaneira a economia, mais especificamente a agricultura e, por consequência, todo o suprimento mundial de alimentos. São riscos momentosos que afetam a todos e que interesses financeiros privados e estatais procuram minimizar ou empurrar para soluções de longo prazo.

O que falar do meio-ambiente? Uma agressão sistêmica, grotesca, ignorante, extrativista da natureza praticada por muitos e há muito tempo em nome do desenvolvimento e lucros imaginários. Preservar o meio-ambiente é que é o verdadeiro negócio. Não dá mais para aguardar discussões inúteis e aproveitadoras para a não adoção normas e diretrizes corretas para a manutenção do meio-ambiente. Proteger a natureza é ação imediata. O mesmo refere-se às questões de saneamento básico, tratamento de água, esgoto e lixo, principalmente no mundo em desenvolvimento como China, Índia, Brasil e inúmeros países africanos onde a falta de saneamento básico adequado expõe a população a doenças, pandemias, vírus, bactérias imunes aos antibióticos. Daí o grande estímulo ao surgimento de empresas ESG: no início mais voltadas aos investimentos, agora mais preocupados com a manutenção do meio-ambiente e a humanização, proteção e desenvolvimento da força de trabalho, elo básico ao desenvolvimento empresarial, além da boa governança.

 

O Brasil

E o nosso Brasil em 2022? O nosso gigante adormecido em berço esplêndido, onde seus filhos não fogem à luta, parecem anestesiados pelas agruras da pandemia e pelas injustiças de uma política que não os representam. Nos acostumamos a um sistema assistencialistas e de benesses onde o rico recebe mais dos que os necessitados. Não vemos políticas sérias que minorem a desigualdade social e econômica, mas, assistimos envergonhados a distribuição de benesses amorais a políticos e partidos, penduricalhos à remuneração dos funcionários públicos, subsídios e proteções a empresários e empresas da iniciativa privada mantendo um círculo vicioso de dependência e interesses mútuos às custas do dinheiro público. O de sempre: uma mão lava a outra, o jeitinho brasileiro, o toma lá dá cá.

2022 é ano de eleição! As ações e discurso estão voltadas para manter o de sempre: política de apadrinhamento, conchavos nada republicanos, manutenção de benesses amorais mantendo uma situação que nós, brasileiros, chamamos de democracia porque temos eleições. As eleições são o instrumento mais importante da Democracia. Mas há outros: acompanhar as atividades, a coerência, a ética, a postura dos seus eleitos. É muito comum, depois das eleições, não lembrarmos em quem votamos. Muito menos comum, é acompanhar através da imprensa honesta o comportamento de nossos candidatos. Mas, não conseguimos nem perceber o que é uma “fake news”! Depois, não entendemos por que a situação não muda? Que continuamos com as endêmicas mazelas e crises? E falando em crise, temos que reconhecer que estamos constantemente em crise. Parece-me, que desde a Nova República, navegamos em eterna crise. Talvez, antes, desde 1934 com Getúlio Vargas, após a Revolução Constitucionalista de 1932.

O que esperar de 2022 nessas circunstâncias? Acumulamos problemas que vão se tornando permanentes e, aparentemente, insolúveis. É o resultado pela incúria de políticos, falta de liderança e, sobretudo, de nós, cidadãos, que continuamos a permitir a manutenção dessa situação. Construímos a grotesca conjuntura de votar em candidato para evitar que outro candidato se eleja! Não escolhemos pelo discurso e por nossas preferências e crenças! A reforma política é muito necessária. Como nos posicionar politicamente, com um amontoado de partidos sem qualquer programa próprio de atuação e posicionamento político? O que temos são os donos de partidos, o tal líder, que atua conforme seus interesses nada republicanos junto aos seus associados que nada tem a ver com o progresso do povo e do país. Mera politicagem!

Assim, não procuramos por alternativas sérias, nem tampouco nos responsabilizamos pela situação que não mudamos. Não percebemos que temos sérios problemas em setores básicos como educação de qualidade, que precisamos de professores qualificados, bem-preparados para a nossa realidade e pagos justamente. Com investimento sério para o SUS que foi heroico durante a pandemia. Com a falta de política para construção de moradias populares e saneamento básico onde 60% da população não tem esgoto e quase 50% não tem acesso a água encanada.

Outras reformas esquecidas em gavetas como a administrativa, a fiscal, a jurídica e a constitucional. Nossa Constituição de 1988 foi importante quando saíamos de um regime militar ditatorial e precisávamos prever situações contra o retorno da ditadura, precisávamos dessa segurança. Hoje em dia, só conseguimos atualizar a Constituição, bem ou mal, através das famosas PEC’s, sinal que está na hora de revermos o texto. O problema é quando, como, por quem! Como escolher a constituinte de forma impecável? Não será fácil!

Acrescido a tudo isso, temos os negacionistas do Covid-19 que tanto mal vem nos causando pela falta de política séria de enfrentamento da pandemia. Assim, em 2022 o vírus continuará a circular entre nós afetando negativamente a nossa economia, permanentemente em crise há tempos. Assim, continuaremos a agravar a miséria e a consequente fome. Haverá uma ligeira melhora para postos de trabalho, mas, com redução sensível no valor médio dos salários. Ou seja, a desigualdade social e econômica aumenta. Por outro lado, teremos problemas de produção e, certamente, a permanência de impasses sérios na distribuição de produtos e insumos, como no mundo todo.

As mudanças climáticas continuarão a nos afetar como assistimos no começo do ano com chuvas intensas e secas afetando o agronegócio e a distribuição de alimentos.

Outras lutas contra preconceitos históricos brasileiros como a mulher mãe e dona de casa mantida como companheira e servidora; o racismo enraizado e hipócrita; o preconceito social e de gênero; a violência sem vergonha, escancarada, como só o desaparecimento da segurança pública permite. Como são preconceitos alimentados por valores familiares tradicionais, a luta é permanente, óbvia e necessária. Não há aceitação imediata, mas é justa por ser baseada na ideia de nossas humanidades e igualdades.

No entanto, devemos reconhecer que o Brasil reagirá em certos segmentos da iniciativa privada. Inúmeras “startups” transformam-se em verdadeiros “unicórnios” trazendo melhorias e reconhecimento, até mesmo, nos mercados internacionais e demonstrando que investir em tecnologia é um bom negócio. Também vemos um desenvolvimento razoável nas atividades legítimas de mineração, de projetos futuros em hidrelétricas de peso na região do Pará e de grandes parques eólicos no mar que aguardam estudos sobre o impacto ao meio-ambiente e aprovação de investimentos. Outros projetos aguardam o final do ano eleitoral para ser implantados como a abertura de portos marítimos e fluviais e privatizações possíveis, a reintrodução de transporte marítimo de cabotagem, privatizações nas áreas de ferrovias e rodovias.

Outro aspecto positivo é a resiliência do povo, transformando a impossibilidade de emprego por iniciativas de empreendedorismo individual em inúmeras atividades para enfrentar as mazelas e sobreviver às dificuldades existentes.

Acredito que 2022 será parecido com 2021. Sinceramente, espero que sejamos criteriosos em nossas escolhas políticas e não, como sempre tendemos a fazer, trocar seis por meia dúzia.

 

Mercado brasileiro de seguros

Finalmente, comento sobre o nosso mercado de seguros. A meu ver, continuaremos a crescer como fizemos em 2020 e 2021.

Quais os pontos importantes?

O primeiro tem relação com o comportamento da Susep e a opinião do mercado em geral a esse posicionamento. O que esperamos do novo Superintendente? Irá continuar o desenvolvimento do mercado e sua inserção no mercado internacional? As condições de abertura do mercado previstas em circulares específicas continuarão prevalecendo? Como ficará a Resolução 382 dos corretores?

Devemos respeito ao novo Superintendente, recém nomeado, e conceder um prazo mínimo para situar-se nas atividades, estudar o que foi feito para determinar mediante clara e transparente comunicação ao mercado as suas considerações e planejamento com relação ao desenvolvimento do seguro no Brasil. É justo reconhecer que a substituição de liderança da Susep resulta em alguma insatisfação na tratativa que era concedida ao mercado.

A meu ver, é irrelevante discutir essa questão.

O importante é conhecermos se a Susep, em eventual novo rumo ou procedimentos, irá manter a abertura e a modernização do mercado ou se irá pretender o retorno ao tradicional sistema de absoluta padronização e controle das operações de seguro, sem liberdade de atuação por parte das seguradoras e corretores profissionais. Em outras palavras, vamos voltar ao tradicional sistema conservador ou vamos dar prosseguimento, com eventuais modificações e adaptações pontuais, no caminho da modernização?

Temos que entender que o Brasil não detém, ainda, um volume de produção de prêmios de seguros, de capacidade própria de absorção de grandes riscos, de conhecimento técnico profissional suficiente e criativo, de estruturas modernas de prestação de serviço e de seguros, que permita que se torne, de fato, independente do sistema internacional. Nem mesmo, os EUA, EU e, agora, China conseguem isso. É bem verdade que, em matéria de seguros, o Brasil dá maior atenção aos seguros massificáveis – automóvel, residência, condomínio, vida - que permitem maior distribuição de risco e resultado positivo, portanto, investe mais na evolução desses seguros.

Seguradoras brasileiras reduziram ou se desinteressaram dos seguros empresariais, dos grandes riscos, por motivos que vão desde a maior sinistralidade por não ser bem tratados até o fato inegável que exigem qualidade mais sofisticada de prestação de serviços, necessariamente inerentes aos seguros empresariais que demandam investimentos adicionais na preparação técnica adequada para prestá-los. Daí o desinteresse e a transferência desses seguros às seguradoras estrangeiras que são assistidas pelos grandes corretores de seguros profissionais, muitas estrangeiras também.

As corretoras profissionais de seguros estão aptas a prestar o “servicing office”, atendendo eventuais exigências legais locais e suprindo suas casas matrizes de dados técnicos dos riscos para os programas internacionais de seus clientes. Por outro lado, é justo reconhecer o que já comentei inúmeras vezes: o chamado mercado de grandes riscos brasileiros é, na verdade, considerado pequeno ou médio pelo mercado internacional. Essa condição afeta sobremaneira a nossa atuação em resseguro. Como existe um desinteresse generalizado das seguradoras brasileiras quanto ao risco empresarial, como as seguradoras estrangeiras que os aceitam reconhecem que não houve tratativa adequada de gerenciamento de risco, costumam conceder capacidades locais mais reduzidas, a tendência é o uso do resseguro internacional.

Esse resseguro será tratado pelo mercado internacional como pequeno, no máximo médio, portanto, sujeito as condições de aceitação básica de resseguros com restrições de coberturas, preços e, principalmente, aos choques dos mercados “soft” e “hard”, sobretudo, as experiências negativas das catástrofes que vem ocorrendo ultimamente no meio-ambiente por consequência das mudanças climáticas.

A tentativa da abertura do nosso mercado surge para melhorar essa realidade. Minhas considerações devem ser entendidas como relacionadas a grandes riscos, não aos riscos massificados, exceto no que respeita aos riscos e seguro de Pessoas: Vida, Saúde, Benefícios e Affinity.

No meu entendimento, a abertura do mercado - ainda em processo de implantação – demonstrou claramente uma certa divisão de interesses. Às seguradoras cabe a função de proporcionar sensível melhora na qualidade do produto seguro. Aos corretores de seguro, às insurtechs e aos corretores agentes proporcionar junto aos seguradores o desenvolvimento dos seguros massificáveis aumentando significativamente o volume de prêmios. Aos corretores profissionais, em conjunto com as seguradoras e resseguradoras, entender dois aspectos semelhantes entre si. Primeiro que o seguro, para sua correta e necessária colocação, exige inúmeros serviços inerentes. O segundo, consequente do primeiro, é que seguro é a mais importante tratativa de transferência de risco. Assim, no seguro empresarial pequeno, médio ou grande está implícita a necessidade da prestação de serviço de gerenciamento dos riscos básicos por parte dos corretores que administram programas de seguro a seus clientes. Como administrar um programa de seguros de uma empresa sem conhecê-la profundamente, sem identificar a que está exposta e seus riscos, sem dimensioná-los e, por fim, determinar em conjunto com o segurado o que deve ser transferido ao seguro?

Infelizmente, estamos em um momento de expectativa onde o mercado aguarda a posição da Susep para dar prosseguimento à sua adaptação à modernização.

Na verdade, deveríamos dar prosseguimento a essa adaptação independente da tomada de decisão, uma vez que já dispomos dos instrumentos para tanto. As seguradoras resolvem seus problemas de resseguro quanto aos contratos automáticos e sua adequação às novas normas. E as seguradoras estrangeiras que operam em grandes riscos passem a acreditar e a ter maior apetite aos nossos grandes riscos, devidamente gerenciados e minimizados oferecendo seus melhores produtos.

Reconheço que 2022 continuará sendo um ano de grandes riscos. A agressão ao meio-ambiente prevalecerá no Brasil. As catástrofes climáticas continuarão severas. Os riscos especulativos gerados pela política eleitoreira, pelas crises econômicas, pelos problemas crônicos que nos afligem irão se agravar influenciando os grandes riscos. Mais do que nunca, o gerenciamento de riscos e seguro passa a ser atividade e condição para minorar qualquer impacto negativo.

Feliz 2022 a todos!

São Paulo, 9 de fevereiro de 2022