A população do mundo está sendo agredida no mais alto grau pelo vírus covid-19. O início das medidas de contenção e combate à epidemia criaram situações bastante difíceis. Com a evolução da doença – sua propagação geométrica claramente demonstrada – governos começaram a entender a importância e seriedade da sua contenção, malgrado posições de líderes ignorantes e irresponsáveis tentando demonstrar que há exagero e histeria com relação à pandemia.

É de reconhecer que tanto a própria epidemia quanto suas tratativas consequentes têm efeito direto em todas as atividades econômicas e financeiras do mundo inteiro. Todos os continentes, hoje, já foram atingidos e, dessa situação generalizada, a tibieza de governos em iniciar as medidas de combate e contenção do vírus tornaram propício o surgimento dos inimigos das economias: a incerteza, a desconfiança, o descrédito e a insegurança de todos os participantes dos inúmeros elos entre produção, distribuição, acumulação e consumo. Desde líderes de grandes bancos e empresas, passando por médio e pequenos investidores sem experiência, aos humildes e batalhadores funcionários e trabalhadores que são os verdadeiros sustentáculos de todas as empresas. Todos sofreremos as consequências dessa situação.

Alguns países, por riqueza e desenvolvimento, têm recursos suficientes para enfrentar a desestabilização econômica: EUA, China, Japão e a maioria dos países da Europa Ocidental. Outros, no entanto, não contam com essa estrutura, aí incluído o nosso querido Brasil.

O mercado em geral irá entrar em uma terrível recessão causada pela pandemia. É evidente, ainda, que o Brasil irá ser afetado particularmente, face à condição de estagnação econômica em que se encontra. A pandemia, ao que tudo indica, deverá se extinguir aos poucos no final de 2020. Nesse período, independente de medidas econômico-financeiras que o país possa adotar, parece-me que irá trazer falências, fechamento de empresas, falta de crédito, desemprego profundo, falta de produtos e serviços, problemas nos transportes, falta de investimento e todas as situações maléficas que resultam de uma súbita parada na economia.

O que tudo isso vai, de fato, impactar no mercado de seguros mundial e no Brasil? Sinceramente, apesar do meu tradicional amor à realidade – que alguns chamam de pessimismo – me parece que o nosso mercado irá adaptar-se a essa traumática adversidade causada pelo coronavírus. Pois temos a grande vantagem de Deus ser brasileiro.

A falta de atividade econômica irá manter o seguro na situação atual, salvo os seguros de transporte e garantia em geral. Mantém-se os seguros de Garantia Judicial e certas coberturas de Responsabilidade Civil. Os demais seguros deverão ser mantidos, tais como: danos materiais corporativos, responsabilidade civil Geral, Erros & Omissões, D&O e que tais, eventualmente no mesmo nível de 2019. Provavelmente, serão reduzidos os seguros massificáveis: residencial, pequenas empresas e, certamente, automóvel. Os seguros Saúde e Vida deverão ter provável aumento de demanda.

Embora os valores em risco e importâncias seguradas tenham a tendência de prevalecer aos valores atuais, devemos considerar um eventual aumento do preço do seguro. Tendo em vista que os grandes mercados resseguradores – locais e internacionais – estão no processo claro de ‘hard market’, reduzirão as capacidades, ou melhor, a aceitação das colocações de resseguros refletirá nos preços dos seguros locais, principalmente, empresariais.

Quanto tempo levará o mundo e, particularmente, o Brasil para retomar suas atividades normais? No horrível desastre econômico mundial dos anos 30, os EUA e parte dos países ricos da Europa Ocidental só começaram a sair da crítica situação mediante o lançamento do programa “New Deal’ do então presidente Roosevelt que alavancou a economia mediante forte abertura de empregos e de investimento em infraestrutura: estradas, obras de arte, ferrovias, portos, canalização de rios, transporte fluvial e por aí afora, no que foi seguido pelas potencias europeias como Alemanha, Reino Unido, França e Itália.

Importante será aguardar essa recuperação com calma, com lavor, com esperança, nós brasileiros, de que o mundo atue de forma diferente após essa pandemia. Talvez, surja uma tendência maior para a tolerância entre nações, povos, religiões e ideologias mas, sobretudo, entre as pessoas. Quem sabe se o ódio irracional, o egoísmo nacionalista e o populismo irresponsável das extremas direita e esquerda não se recolham às suas insignificâncias, não se envergonhem de atuar tão negativamente e, portanto, os ‘america first’ não se torne ‘world first’, ou melhor, ‘the people first’? Isso, certamente, poderia ajudar à recuperação da economia e bem estar social mundial e, por consequência, a economia e a sociedade brasileira e, finalmente, ao mercado de seguros no Brasil, segmento importante ao nosso desenvolvimento.

Fonte: O Estado de S. Paulo, em 07.06.2020