Principalmente para um corretor de seguros nascido nos primeiros anos do século XX, a evolução tecnológica no mundo é, realmente, espantosa! Tenho uma enorme dificuldade em conhecer os processos que permitem o uso pleno dessa tecnologia e, portanto, uma solene inveja dos meus filhos e netos que tão bem dominam essa fantástica ciência.

Ao mesmo tempo, tenho uma enorme admiração e respeito por essa técnica moderna e complexa e a certeza de que o nosso mercado está se beneficiando ao adotá-la e considerá-la essencial como ferramenta dos processos de seguro.

O que temo um tanto – e nesse caso, espero estar errado no meu raciocínio – é a extrema velocidade da obsolescência tecnológica: a internet das coisas, a inteligência digital, o 5G e outras tantas rapidamente tornam ultrapassadas as tecnologias recém implantadas com altos investimentos que são substituídas por novos processos, novos métodos, novas ideias que surgem a todo momento dificultando aglutinar, entender e processar essa veloz evolução.

Tudo isso impacta com grande intensidade no mercado de seguros. Principalmente no nosso que, em alguns aspectos, ainda dependente da evolução e modernização dos mercados tradicionais e avançados como EUA e UE.

É evidente que seguros massificados não poderão prescindir da evolução tecnológica. Esperamos, tão somente, que a qualidade dos serviços das corretoras e seguradoras ‘techs’ - com suas facilidades de contratação e agilidades no processamento acompanhem as tratativas de sinistros - que certamente ocorrerão – de forma justa e correta. Até mesmo o uso de drones para vistoria de riscos e de sinistros vem sendo apregoados nos seguros de automóvel e residenciais. As seguradoras estão preparadas a pagar indenizações assim verificadas, sem a burocracia de orçamentos e que tais? Nos seguros de Vida e Acidentes Pessoais, como fica a parafernália de documentos necessários? Tudo digitalizado e a agilidade será melhor? Em última análise, como fica o controle de fraudes, tão impactantes nos seguros de auto e RC?

No caso dos seguros corporativos, talvez a minha ignorância e a minha relutância em relação à massificação de processos de gerenciamento de risco, na análise de tratativas e adaptações de condições aos riscos seguráveis, me faz pensar como a tecnologia poderá impactar. Quer me parecer que a tecnologia está mais voltada aos processos de concessão de dados e comunicação com clientes e seguradoras e, posteriormente, com o acompanhamento do controle de riscos e seguros na evolução do programa de seguros.

Na efetiva tratativa dos riscos corporativos, onde imperam o conhecimento profundo do cliente, seu plano estratégico, o que irá prevalecer é a verificação in loco, a conversa com a alta administração, a avaliação do seu apetite a riscos e o impacto desses riscos à empresa e a análise real das melhores tratativas. A partir desse momento, terminada essa análise, inicia aí o processamento desses dados e o uso da tecnologia.

É óbvio que o gerenciamento de risco já faz uso de ferramentas tecnológicas tais como a preparação da matriz do risco, cálculo de estimativas de probabilidades mínimas, máximas e esperadas, algumas medidas de controle de riscos, aplicação de franquias, participações ideais etc.

Infelizmente – e perdoem a minha santa ignorância – não consigo ver como os riscos corporativos possam vir a ser tratados exclusivamente pela tecnologia de uma INSURTECH. As questões de verificação de dados da própria empresa, de análise efetiva dos riscos e a adequação dos programas de retenção de riscos e das condições e cláusulas adaptáveis aos riscos transferidos ao seguro, e a negociação para colocação do programa de seguros, a meu ver, fogem à automaticidade e massificação das formas tecnológicas por mais inteligentes que possam vir a ser. Eventualmente, se adotadas, vão resultar em formas padronizadas de garantir riscos. E essa padronização não irá refletir as diferenças de supostos riscos similares.

Dificilmente, um risco estimativo é exatamente igual em quaisquer atividades. Cada empresa tem seus riscos particularizados e sujeitos, por esse motivo, a tratativas dificilmente padronizadas. Aplica-se o mesmo às negociações de colocação dos riscos no mercado segurador. Se hoje, é extremamente difícil a colocação de riscos junto às seguradoras, dada a clara deterioração da qualificação de subscritores nas seguradores, com as honrosas exceções, imaginem quando essa subscrição é friamente colocada em processos tecnológicos. O mesmo aplica-se à regulação dos sinistros que venham a ocorrer. Dada a automaticidade, como fica a tradicional negociação para a definição de uma indenização justa e correta? Ou ficará mais fácil a simples recusa da indenização?

Enfim, respeito e admiro a tecnologia da informação - a famosa  TI – porém,  faço votos que a introdução da tecnologia seja acompanhada da qualificação da mão de obra, senão deturpamos as medidas e sistemas modernos e viáveis, em tão somente, ‘modernosos’.

São Paulo, 5 de setembro de 2019