Por Carlos Cortés (*)

Na 15ª edição do Relatório de Riscos Globais apresentado no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, as pandemias aparecem entre as maiores preocupações das lideranças políticas, empresariais, pesquisadores e cientistas. No momento em que assistimos aos desdobramentos dos impactos do Covid-19 (Coronavírus), neste relatório, as doenças infecciosas estão entre os dez maiores riscos de impacto global na próxima década, ao lado das questões ambientais e de segurança cibernética, por exemplo.

O alerta sobre as doenças infecciosas não é por acaso. Elas transcendem fronteiras. O vírus causador de infecções respiratórias que teve origem na cidade de Wuhan, na China, se espalhou pelo mundo. Neste contexto, o mercado segurador tem um papel importante de ajudar as empresas a compreenderem a dimensão das ameaças e reduzirem os seus impactos. A engenharia permite definir estratégias adequadas de gerenciamento e mitigação, evitando, assim, possíveis perdas.

A engenharia de risco ainda vai além de trazer um olhar mais amplo do risco e as suas interconexões. Por exemplo: uma pandemia pode comprometer quais ativos das organizações? Imaginamos uma empresa que importa matéria-prima ou produtos da China. Ou uma companhia que iria receber daquele país máquinas e equipamentos para ampliar a produção. E ainda uma multinacional que tem colaboradores que residem em Wuhan, e que não puderam sair de casa por semanas. São cenários que precisam ser antecipados com planos de emergência, gestão de crise e continuidade dos negócios. A capacidade de uma empresa se recuperar de uma situação de risco e sair à frente dos concorrentes potencialmente impactados dependerá do nível de cada um dos planos.

Importante ressaltar que os planos são diferentes, mas se relacionam no contexto da gestão de continuidade dos negócios e têm o objetivo de mitigar o impacto dos eventos e melhorar a resiliência dos negócios. Mas tudo é possível somente com uma análise do impacto no negócio muito bem estruturada. E a gestão de continuidade dos negócios, em qualquer tipo de ameaça, não deve limitar-se às definições dos planos, e sim ser parte da cultura das empresas.

O Covid-19 está trazendo muitas lições, tanto para as empresas que tinham um nível de preparação baixo, quanto para aquelas que tinham trabalhado esses planos com muita antecedência e que, provavelmente, perceberam que não foram suficientes. Neste momento, é realmente relevante que essas lições se convertam em aprendizados e que as empresas considerem a prática da Gestão da Continuidade dos Negócios amplamente estudada em outros países e desenvolvida de uma forma empírica no Brasil, como uma excelente forma de mitigar riscos e aproveitar oportunidades.

A missão do mercado segurador é auxiliar as empresas para que possam conhecer, dimensionar e se proteger de possíveis implicações aos seus negócios. As experiências nos mostram que a fortaleza de qualquer organização, independentemente das situações adversas, está na capacidade de se adaptar rapidamente aos obstáculos. Uma crise deve também ser percebida com um horizonte de oportunidades. Momento de reflexão e preparação para atravessar esta onda em segurança. E, assim, ser mais competitivo no futuro.

(*) Carlos Cortés é Superintendente de Engenharia de Riscos da Zurich.

07.04.2020